quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Liberdade é tudo

"A lei dos deputados é diferente da lei dos pobres. Gostaria de falar pros maiores lá em cima que eles olhem para os pequenos aqui em baixo com mais dignidade e respeito.


Meu sonho é que todo mundo seja igual - como era antes. Que a gente tivesse novamente o direito de ir e vir.


Nossa luta é para mudar a categorização do Parque [Nacional das Sempre-vivas] e a gente ter lei de proteção onde possamos ajudar a proteger, a guardar a mata, colher, ter nossas criações, fazer roça de toco e colher flores.


 Sonhamos em recuperar a liberdade porque a liberdade é tudo."


Imir Jesus Cruz Vale de 43 anos, Vargem do Inhaí, Minas Gerais
Fotos: JR Ripper

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Joana Clementina Santos, parteira.

“Não sei certinho quantos anos tenho pois registrei depois de adulta. Deram 80 anos mas tenho mais, Não sei...

Aqui tem feijão de corda, andu, milho, mandioca, fava, laranja, manga, banana, abacate. Nasci aqui, fui criada aqui, meus meninos nasceram aqui e foram criados aqui. Aqui nesse lugar nasceram e se criaram meus pais. Aqui, esparramados nasceram e foram criados meu avô e meu bisavô.

Aqui é um espojo dos velhos, o que sobrou dos antigos. Aqui, agora, to sendo a mais velha da comunidade. Tive sete filhos. Todos menos uma que morreu estão por aqui esparramados.


Eu nunca apanhei flor mas meu irmão ficava meses e meses apanhando flor, meus filhos também. Agora está confuso, foi ruim pra todos.

Meu avô e meu Bisavô acho que trabalhavam na roça mas faziam outras coisas, tinha música, tinha também dança, eles tocavam instrumentos, acho que faziam com pau comprido mas não sei direito."

Dona Santa, 80 anos (ou mais), Vargem do Inhaí, Minas Gerais. 
Fotos: J.R Ripper


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Porque Minas Gerais?



Foto:Ana Mendes
Porque você escolheu fotografar Minas Gerais?
Ripper:  Há mais de vinte anos eu venho documentando as populações tradicionais de Minas. Este estado vive um momento especial porque está massacrado por eucaliptos, mineradoras, pela soja e até por uma postura equivocada de Parques Nacionais que não querem mudar a sua classificação e permitir que os guardiões, do que ainda resta de mata, possam permanecer em seus locais de origem. Talvez o Ministério da Agricultura hoje seja uma extensão da bancada ruralista. Todas esses investimentos em soja e mineradoras são propostas ruralistas que estão avassalando essas comunidades. 

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Flores

Em Minas Gerais, é comum ver florzinhas secas, nas mais diversas cores, sendo vendidas por artesãos locais. Não se sabe, entretanto, a história por detrás das pequeninas pétalas. Elas são o símbolo maior de uma cultura, uma tradição passada de geração a geração que vem sendo ameaçada pela incongruente política nacional de preservação para Unidades de Conservação. Este é o contexto em que vivem diversas famílias de coletores de sempre-vivas na Serra do Espinhaço em Diamantina, Minas Gerais. O que poderia ser uma solução e uma salvaguarda para a tradição e o trabalho de dezenas de famílias é ao contrário, motivo de preocupação. A entrada no Parque Nacional das Sempre-Vivas para a coleta de flores está restrita e as comunidades estão organizadas em busca de solucionar este problema*. Os fotógrafos J.R Ripper e Valda Nogueira estão na região acompanhando o período de coleta e ouvindo os relatos dessas famílias.

*Vale a pena lembrar que existem 12 tipos de unidades de conservação (Lei n° 9.985, de 2000, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC) sendo cinco de preservação integral e as outras de uso sustentável. Quando ocorre a realização do zoneamento das áreas que irão integrar a nova UC é compromisso do estado levar em conta os povos que se utilizam da área de maneira sustentável e integrá-los ao plano de gestão e manejo da área.   

Fotos: J.R Ripper
Texto: Ana Mendes













 


sábado, 14 de fevereiro de 2015

Sempre-viva: flores que têm memória

Serra do Espinhaço, Minas Gerais
Foto: J.R Ripper

Sou filha desse Brasil
Sou da serra das Gerais
e trago uma grande história
uma luta pela paz,
de nós, os geraizeiros,
enfrentando os grileiros,
pra defender nosso lugar.

Pra quem não conhece a história
agora eu quero contar:
os geraizeiros lutam
por um lugar pra morar
e pra manter a tradição
que os outros querem tirar.

Meu pai apanhava flor
pra eu poder estudar
hoje veio o agronegócio
entrou para atrapalhar
onde era fonte sustentável
nem uma flor se vê mais.

Pois aqui é o caboclo
que preserva a natureza
tirando dela o sustento
pra levar o pão à mesa
trazendo a sã consciência
de como é rara essa riqueza.

Pois é isso, meu Brasil,
que eu quero esclarecer
os geraizeiros são
os povos de tradição.
que de coração e alma
preservam esse sertão.


A autora deste poema é Eliad Gisele Alves, moradora do quilombo Comunidade de Raiz, no município de Presidente Kubistchek, em Diamantina (Vale do Jequitinhonha)