sexta-feira, 20 de março de 2015

Essa pequena aí



Texto: Ana Mendes
Fotos: Ana Mendes (cor) e Valda (p&b)

A espera de se consultar com a nova médica, Dr. Laura Martins, diversas pessoas encheram o pequeno espaço da capela da comunidade Arenhegaua. É ali mesmo que a equipe de enfermeiras, agente comunitário e médica aplicam injeções, medem, pesam as pessoas e distribuem remédios.

Entre os adultos, chama atenção a quantidade de crianças. Bebezinhos de colo aos montes, todos lindos e cheirosos, afinal é dia de consulta e das dolorosas injeções. Um choro aqui outro ali. As mães amamentando e embalando os nenes. apreensivas com a dor das picadas nas pernas roliças. Só mães, não vi nenhum pai. Poucos homens em geral precisaram de médico naquela manhã.

Na televisão, uma nova campanha para as meninas de 10 a 14 anos se imunizarem contra o HPV. Na capela, mulheres saem com a receita de cremes vaginais contra a bacterias simples ou quem sabe seja HPV? Não há exame. A médica é clinica geral, médica da famíla, faz o que pode, visivelmente com muito carinho. Não há injeções preventiva para os meninos? Eu me pergunto do outro lado da televisão.

Um homem me fala sobre o grande índice de jovens grávidas nos quilombos. Ao seu lado, no banco da igreja, uma menina com uns cinco ou seis meses de gestação. "Tá vendo essa menina aqui?" Eu olho pra ela e ela olha pra mim. "Tem 17 anos". Ela fica séria, incontáveis vezes ouviu este comentário desde que engravidou. Eu me pergunto, cadê o pai pra dividir as horas que não passam naquele banco de espera? Cadê o pai pra ouvir os comentários sobre o futuro de seu filho? O silêncio da menina e o meu, não chega a ser cúmplice. Não nos conhecemos. Em comum desenvolvemos a capacidade de optar rapidamente entre responder ou não à agressões como esta. Naquela ocasião, calamos. Mas nem sempre, por isso esse texto.






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